terça-feira, 28 de julho de 2015

Salve o Elefante

Há cerca de 100 elefantes nesta foto. É essa a quantidade 
de elefantes massacrados a cada 24 horas na África, 
pelas taxas atuais.

Tyler Hicks/The New York Times
Ou podemos dizer que um elefante é morto 
a cada 14 minutos. 


Salve o Elefante
Por LYDIA MILLET, 26 de Julho de 2015, The New York Times

MAIS de dois milhões de anos atrás, os mamutes e os elefantes asiáticos tomaram caminhos evolutivos diferentes — e na mesma ocasião, de acordo com pesquisas de DNA, o mesmo ocorreu com seus parentes na África. Por muito tempo, os elefantes na África eram considerados como se pertencessem a uma única espécie, mas uma massa crítica de estudos genéticos agora prova que são duas.

Você poderia dizer que as duas espécies— elefantes da “floresta” e elefantes da “savana”— são diferentes apenas ao observá-las com cuidado, mas até 2010 faltavam evidências genéticas. Os elefantes da floresta são muito menores, pesam metade do peso dos elefantes da savana e se desenvolveram nas florestas tropicais da África Central e Ocidental; suas orelhas são mais arredondadas do que as de seus primos e têm presas mais retas. Os elefantes da savana, cujas orelhas são mais triangulares e cujas presas são mais espessas e curvadas, vagam pelas planícies abertas e cerrados de outras partes do vasto continente, desde a África Oriental até a África Austral, onde são mais abundantes. Em termos genéticos, as duas espécies são tão diferentes uma da outra, como são os leões dos tigres.

Durante a última década, emergiu um forte consenso científico sobre a biologia dos elefantes. Então, em junho, o Centro para a Diversidade Biológica, onde trabalho, preencheu uma petição, endereçada à United States Fish and Wildlife Service pedindo a reclassificação dos elefantes africanos em duas espécies diferentes e a inclusão de ambas como “endangered" (em perigo de extinção) no Endangered Species Act.

Pode parecer estranho que os Estados Unidos dê alguma classificação legal a todos os animais de outros países, mas a verdade é que a proteção americana de animais ou plantas “estrangeiros”  sob o poderoso Endangered Species Act pode trazer benefícios palpáveis a essas espécies, incluindo impedir que suas partes sejam vendidas nos Estados Unidos e impedindo nosso governo de sancionar ou pagar por ações que machuquem os animais. Isso também pode prover fundos para pesquisas e educação.

A questão entre uma contra duas espécies de elefantes africanos não é definir um enigmático argumento de DNA; é sobre a vida e a morte dessas extraordinárias criaturas. Sem elefantes, a paisagem da África ficaria irreconhecível, ainda que esses animais tenham declinado em centenas de milhares devido a duas enormes ondas de caça neste século - uma nas décadas de 1970 e 1980 e a outra com início em 2009 e ainda em curso. Se o ponto central da petição for atendido, pode ser a salvação. 

Aqui está como. Agora mesmo,  as duas espécies de elefantes africanos são protegidas sob o Endangered Species Act apenas como “threatened” (ameaçadas) — uma proteção menor que “endangered” (em perigo). O que “endangered” significa para os elefantes, ou para qualquer outro animal ou planta, é simples: não há muitos remanescentes, então a espécie corre risco de ser extinta. Reconhecer o fato de que os elefantes africanos pertencem a duas espécies distintas revela os verdadeiros números muito baixos — com relação a quantidades históricas — de cada uma delas. Ao invés de olharmos para meio milhão de elefantes remanescentes, é como se estivéssemos olhando para 100.000 (e possivelmente menos de 50.000) elefantes da floresta sobrevivendo no mundo e cerca de 400.000 elefantes da savana. É importante entender, entretanto, que os números reais podem ser ainda muito menores, já que elefantes são notavelmente difíceis de serem contados.

Populações de ambas as espécies estão em queda livre, enquanto o frenesi da caça impulsiona a matança e o massacre, para obtenção de suas presas, de dezenas de milhares de elefantes a cada ano. O número de elefantes africanos da floresta na África Central declinou 62 porcento em menos de uma década,  devastados por um coquetel mortal de caça ilegal, perda de habitat e guerra civil, fazendo com que seja a espécie mais ameaçada das duas. As populações de elefantes africanos da savana também tiveram um declínio significativo nos países onde vivem, com uma devastação maior na Tanzania, onde uma das maiores populações de elefantes — 109.000 animais — caiu para apenas 43.000 em apenas cinco anos, entre 2009 e 2014.

Se os EUA reconhecerem e protegerem as duas espécies, a International Union for Conservation of Nature e a CITES, o tratado que regulamenta  o comércio global da vida selvagem, podem dar o mesmo passo, trazendo uma nova e necessária ajuda para a populações em mais alto risco de elefantes.

Listá-los como “endangered” (em perigo) também afunilaria ainda mais as restrições para importar, exportar e vender produtos de marfim, a partir e dentro dos Estados Unidos. Depois da  China, os Estados Unidos é o segundo maior mercado de marfim, com o comércio legal de antiguidades de marfim sendo usado para acobertar o comércio ilegal de marfim novo. No mês passado, um oficial sênior de vida selvagem da China prometeu colocar um fim no comércio de marfim no país se os Estados Unidos fizerem o mesmo. 

Isso significa que a ação americana de reclassificar os elefantes africanos poderia transformar o modo como as duas maiores economias do planeta — que também são as duas nações que mais consomem marfim — estão lidando com a crise do massacre dos elefantes. 

Temos que agir agora, antes que seja tarde demais.


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Traduzido por Junia Machado. Revisão: João Paiva, Teca Franco. Edição: Junia Machado.