sexta-feira, 29 de junho de 2012

Aventura Jumbo em Mondilkiri, no Camboja

Aposta em santuário está dando certo

Pouco mais de um ano após a primeira reportagem publicada pelo The Phnom Penh Post, Jack Highwood, Gerente do Elephant Valley Project (Projeto Vale dos Elefantes), fala sobre seu projeto. E ficamos sabendo que o santuário para elefantes em Mondulkiri, Camboja, 'vai muito bem, obrigado'.

Leia a reportagem de 2011, que publicamos abaixo, e saiba como uma floresta que estava prestes a ser derrubada se transformou em um projeto sustentável, bom para os elefantes e para os habitantes da região.

Hoje, o santuário é a casa de 12 elefantes (um macho e onze fêmeas), sendo um de Mondulkiri e os outros de diversas partes do país, e continua a dar assistência veterinária aos elefantes domesticados de diversas partes do país, enquanto ensina aos "mahouts" (cornacas, ou condutores dos elefantes) uma importante lição: se tratarem bem seus animais, serão mais valorizados pelos turistas.

"Aqui, os elefantes têm alimentação natural e estímulos suficientes para que possam ser elefantes", diz Jack. "Esse é o conceito do santuário. O que você quer fazer é o que os elefantes querem fazer".


 Jack Highwood, Gerente do Elephant Valley Prodject em Mondulkiri, fala para o Phnom Penh Post sobre
suas aventuras como Mahout e o que significa criar uma casa para alguns dos elefantes maltratados
do país. 

Aposta em santuário está dando certo

25 de Março de 2011, por 
Mark Bibby Jackson
, The Phnom Penh Post, Camboja


Elefantes não foram feitos para andar nas ruas de Phnom Penh, circundar o templo de Angkor Wat ou morar num zoo, diz Jack Highwood, fundador do Elephant Valley Project, localizado na província de Mondulkiri, no Camboja. “Este é o seu habitat natural. Nós temos uma vasta área de terras aqui, e é a estas terras que eles pertencem.”


 A saúde dos elefantes melhora em um ambiente natural.

Highwood estabeleceu o seu santuário de elefantes nas colinas adjacentes a Sen Monorom há quatro anos.

“Eu trabalhava com os elefantes da Tailândia há dois anos,” diz Highwood. “Ao visitar o Camboja, pude constatar que a situação dos elefantes era caótica. Eles eram muito maltratados.”

Inicialmente, o projeto foi focado em pesquisa e tratamento veterinário para os elefantes. Entretanto, Highwood logo se deu conta de que isso era muito pouco para aliviar o problema real enfrentado por elefantes “domésticos”: o trabalho excessivo.

“Decidimos trazer os elefantes até nós, em vez de irmos até eles, e foi assim que o santuário teve seu início,” ele explica. “Em vez de fazer um projeto de cinco anos, como uma ONG qualquer, e quem sabe depois ter que fechar por falta de dinheiro e não beneficiar ninguém, resolvi fazer uma aposta.”

Highwood apostou na construção de um local de ecoturismo capaz de proporcionar uma renda sustentável para o projeto. No Elephant Valley, turistas podem se hospedar, fazer refeições ou também ser voluntários do projeto. Além de ajudar a dar banho nos elefantes, os voluntários constroem mais alojamentos e plantam árvores. A convivência com os elefantes é garantida.

A renda gerada pelos turistas é usada para cuidar dos elefantes.

“Todos os elefantes daqui foram vítimas de abusos tremendos e tinham ferimentos horripilantes,” diz Highwood. “Você pode fazer um elefante adoecer em uma semana, mas curá-lo leva um ano.”

Como a terra é comunitária, os aldeões são beneficiados através da renda gerada com o aluguel das terras e dos empregos gerados pelo projeto.

“Nós trazemos turistas e voluntários, e isso cria uma porção de empregos,” ele diz.
Todas as vagas, com exceção de duas, são preenchidas por habitantes de uma vila local do distrito de Poutrom. Highwood também fornece para os aldeões serviço médico universal, alimentação, rede contra mosquitos e serviço médico particular.

Essa atitude está começando a gerar dividendos. “Quando eu cheguei aqui, eles queriam derrubar e vender a floresta,” diz ele. “Após um ano, todos concordam que essa foi a melhor alternativa.”

De acordo com Highwood, sobraram somente 121 elefantes “domésticos” no Camboja, dos quais metade vive em Mondulkiri. Além dos sete elefantes que vivem permanentemente no santuário, o projeto disponibiliza tratamento veterinário não invasivo para metade desses elefantes.

A equipe de pesquisa e acompanhamento do projeto regularmente monitora os elefantes da região. Ao descobrir que um elefante precisa de tratamento, a equipe tenta persuadir seus donos a deixá-lo ir para o santuário.

“Nós alugamos o elefante por um mês, para que a renda da família continue sendo a mesma,” diz Highwood. “Nós tratamos o elefante com antibióticos, o curamos e o mandamos de volta, esperando que ele venha a ter um tratamento melhor.”

Segundo Highwood, o acréscimo no número de turistas visitando a província é parcialmente responsável pela piora das condições do elefante “doméstico” em Mondulkiri.

“O turismo é um problema sério,” ele diz. “Os elefantes proporcionam um lucro maciço através do turismo. Os condutores de elefantes são levados a carregar o maior número de turistas possível. Eles usam os elefantes para carregar os turistas pra lá e pra cá.”

Ele cita o exemplo de um elefante que trabalhava com turismo que morreu dezembro passado. “Estávamos tentando conversar com o dono,” ele explica. “Nós avisamos que o elefante estava cada vez mais magro. Ele estava ganhando U$ 20 por dia, enquanto a pousada lucrava U$ 50, U$ 70. Continuaram a forçar o elefante a trabalhar até a exaustão. No final, ele apenas caiu para o lado e morreu.”

Apesar disso, Highwood acredita que os aldeões que o projeto abrange estão começando a se conscientizar de que há uma estreita relação entre o tratamento dado aos elefantes e a sua reputação entre os turistas. Aqueles que tratam bem os seus elefantes terão um lucro maior com o turismo.

Para Highwood, o destino dos elefantes de Mondulkiri é incerto: “Estamos num ponto crítico no momento. Nós não sabemos ao certo qual será o desfecho”.

Link para o artigo original. 

Saiba mais sobre o uso de elefantes como meio de transporte por turistas, comum no Camboja e em muitos países asiáticos. 

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domingo, 17 de junho de 2012

A falta de elefantes e rinocerontes reduz a biodiversidade das florestas tropicais

Perda de habitat, caça ilegal e o conflito entre humanos e elefantes causaram 
a perda de 95% da abrangência de distribuição histórica do elefante asiático (Elephas maximus).
Crédito: Ahimsa Campos-Arceiz


O desaparecimento progressivo de animais dispersores de sementes, como os elefantes e os rinocerontes, coloca a integridade estrutural e a biodiversidade da floresta tropical do sudeste da Ásia em risco. Com a ajuda de pesquisadores espanhóis, um time internacional de especialistas confirmou que nem herbívoros como a anta podem substituí-los.

“Mega-herbívoros agem como jardineiros das úmidas florestas tropicais: eles são vitais para a regeneração da floresta e mantêm sua estrutura e biodiversidade”, como explica Ahimsa Campos-Arceiz, autor-chefe do estudo que foi publicado no jornal “Biotropica” e pesquisador na Escola de Geografia da Universidade de Nottingham, na Malásia.

Nessas florestas no leste da África, a grande diversidade de espécies de plantas significa que não há espaço suficiente para todas as árvores germinarem e crescerem. Assim como a escassez de luz, a dispersão de sementes se torna mais complicada pela falta de vento, resultado do tamanho das árvores, que atingem até 90 metros de altura. A vida das plantas é então limitada a sementes dispersas por animais que comem polpa. Eles espalham as sementes quando deixam cair seu alimento, regurgitando-o, ou ainda mais tarde, através de suas fezes.

No caso das grandes sementes, “plantas necessitam de um grande animal capaz de comer, transportar e defecar as sementes em boas condições”, como descrito por Luis Santamaría, coautor e pesquisador do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados (IMEDEA) da Agência de Pesquisas Científicas CSIC, da Espanha. É aqui que os elefantes e os rinocerontes entram em campo, porque eles podem dispersar uma grande quantidade de sementes, graças ao fato de que vagarosamente digerem poucas quantidades de seu alimento.

Entretanto, a perda de habitat, a caça ilegal e o conflito entre humanos e elefantes causaram a perda de 95% da abrangência de distribuição histórica do elefante asiático (Elephas maximus) e deixaram os rinocerontes a apenas um passo da extinção: há menos de 50 rinocerontes de Java (Rhinocerus sondaicus) e 200 rinocerontes de Sumatra (Rhinocerus sumatrensis).

De acordo com a lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), elefantes estão em “perigo de extinção”, e as duas espécies de rinocerontes estão “criticamente ameaçadas”.


As antas asiáticas não são boas dispersoras para plantas
com grandes frutos e sementes. Crédito: Ahimsa Campos-Arceiz

As antas asiáticas não são elefantes

Em face dessa situação, o time de pesquisadores avaliou a capacidade de dispersão de sementes de outro herbívoro pesando 300 quilos que, por razões culturais, não é caçado e tem um sistema digestivo similar ao dos elefantes e rinocerontes: a anta asiática (Tapirus indicus).

O estudo permitiu aos pesquisadores analisar o efeito da dispersão, pelas antas, de sementes – e sua sobrevivência – de nove plantas distintas. Isso incluiu algumas espécies de plantas grandes, como a mangueira e a jaqueira, bem como de outras espécies menores, como a maruleira (Dillenia indica).

Entre outros resultados, concluiu-se que as antas defecaram 8% das sementes de tamarindo ingeridas (das quais nenhuma germinou), em comparação com os elefantes, que defecaram 75% das 2.390 sementes ingeridas (das quais 65% germinaram).

“As antas asiáticas cospem, mastigam ou digerem a maioria das grandes sementes”. Isso tanto as destrói como as deixa no mesmo local onde estavam. Como resultado, as antas não são boas dispersoras para plantas com grandes frutos e sementes”, confirma Campos-Arceiz. Nesse sentido, “considerando a função que desempenham, pertencem a um grupo diferente do dos elefantes e rinocerontes”.

Impedir a caça ilegal é prioridade

“Se esses mega-herbívoros desaparecerem do ecossistema, sua contribuição para os processos ecológicos também será perdida, e o caminho do ecossistema mudará irreversivelmente”, explica o autor principal, que declara ainda que “as mais prováveis consequências são a mudança da estrutura da vegetação rasteira e da floresta e a perda de certas espécies”.

Sem grandes herbívoros, as sementes das grandes plantas sempre cairão próximas à planta-mãe e, consequentemente, serão “incapazes de colonizar o espaço disponível em outras áreas da floresta”, alerta o pesquisador da IMEDEA.

Em virtude disso, aquelas espécies que dependem de grandes mamíferos serão cada vez mais raras, e as que dependem do vento e de pequenos e abundantes animais irão aumentar em termos de densidade e dominância. Campos-Arceiz afirma que, “no final das contas, a composição e a estrutura da floresta mudam e acabam se tornando menos complexas tanto a nível estrutural como funcional: isso se traduz em perda de biodiversidade”.

Para evitar tal cenário, pesquisadores sugerem que a megafauna seja protegida e, em alguns casos, a reintrodução de mega-herbívoros em áreas de onde eles previamente desapareceram. “No sudeste da Ásia, a prioridade é impedir a caça ilegal e diminuir o impacto da perda de habitat”, indica o especialista, criticando a “absurda” motivação para matar, em troca da venda de chifres e presas para a medicina tradicional (”sem benefícios terapêuticos”) ou para fabricação de produtos ornamentais. Isso também reafirma a necessidade de se combater o mercado ilegal “de uma maneira muito mais determinante”.

Link para o texto original

Fonte: Fundação Espanhola para a Ciência e Tecnologia 

Leia também: "A América do Sul precisa de elefantes, segundo ecologista" 

Assista a uma divertida animação: "O elefante planta florestas"


sábado, 16 de junho de 2012

“Memória de Elefante” estreia no Brasil amanhã, 17 de junho, às 19h, na Nat Geo Wild.

O documentário “Memória de Elefante” (War Elephants) estreia na América Latina neste domingo, 17 de junho. No Brasil, será exibido às 19h, no canal Nat Geo Wild HD. O filme, que ganhou um prêmio no prestigiado Sun Valley Film Festival, retrata o contato da cientista Joyce Poole com elefantes que sobreviveram à guerra civil, em Moçambique, quando 2.000 deles foram mortos. A Dra. Joyce Poole, a maior estudiosa de elefantes do mundo, é filmada por seu irmão, Bob Poole, em sua tentativa de transformar o comportamento agressivo desses animais e estabelecer relações de confiança com eles. Assista a um pequeno trecho do filme aqui, com Joyce “falando com os elefantes”. 





Sobre “Memória de Elefante” (War Elephants) no website da National Geographic: “No Parque Nacional de Gorongosa, em Moçambique, os elefantes estão em crise: anos de guerra civil e caça por marfim os deixaram com medo e hostis com relação a humanos. Em um novo filme para tv da National Geographic, a mais notável pesquisadora de elefantes Dra. Joyce Poole, em um documentário feito por seu irmão, o cinegrafista Bob Poole, trabalha para criar confiança e afastá-los de seu comportamento violento”.

Sinopse (Sky TV): “Junte-se aos irmãos Bob e Joyce Poole e viajem para o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, para uma missão simples, mas perigosa: confrontar elefantes traumatizados, ensiná-los a não atacar pessoas e convencê-los de que, depois de dezesseis anos de guerra civil, caça e destruição, os seres humanos vêm ao parque em paz e para oferecer-lhes proteção, e não terror e derramamento de sangue. Mas, para transmitir esta mensagem, Bob e Joyce devem colocar suas próprias vidas em perigo. Alguns dizem que os elefantes nunca esquecem, e, no Parque Nacional da Gorongosa, eles parecem se lembrar das balas que mataram suas famílias e do terror que destruiu sua cultura. Joyce Poole, cientista e especialista em elefantes, estuda esses magníficos animais há mais de trinta anos. Seu irmão Bob, um cineasta aclamado, ficou filmando o tempo todo. O plano dos dois é uma complexa combinação de ciência e do que alguns considerariam uma insanidade: Bob e Joyce vão dirigir seus carros diretamente no caminho dos elefantes, que vêm para atacar, mas não se deixarão intimidar por eles. A ideia é habituar os elefantes com as pessoas, mostrar que os turistas não são uma ameaça e, com sorte, saírem vivos. Mas quando um elefante de seis toneladas furioso vem correndo em direção ao carro, serão Bob e Joyce capazes de manter a calma e ficar ou vão fugir como prisioneiros do medo? Se estes elefantes realmente não podem esquecer o passado, a questão é: será que são capazes de perdoar?”