quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Inteligência dos Elefantes

Uma família investiga ossos de elefante (C) ElephantVoices

A fabricação e a utilização de ferramentas, a compreensão da morte, a empatia e sua memória notável.

Por ElephantVoices – tradução livre de Andrea Schmidt.

Os elefantes estão entre os animais não humanos mais inteligentes e complexos, tanto do ponto de vista emocional como social. Como regra, podemos ver que as espécies que possuem os maiores cérebros têm um melhor desenvolvimento do córtex cerebral e uma melhor capacidade de aprendizagem, além da habilidade de reter informações por mais tempo. Décadas de estudos compõem uma literatura com pesquisas e acompanhamentos científicos sobre a inteligência e as habilidades cognitivas desses animais.

Família explorando a Reserva de Kitirua, no Kenya (C) JuniaMachado/ElephantVoices

Os elefantes possuem uma memória notável, acumulando conhecimentos sociais e ecológicos, lembrando-se de aromas e vozes de outros indivíduos, rotas migratórias, lugares especiais e habilidades aprendidas. Há alguns relatos de histórias reais de elefantes que se lembraram de pessoas com quem tinham tido uma relação social e que não viam há anos. Joyce Poole tem sua própria experiência sobre a extraordinária memória desses gigantes da natureza. Em meados de 1980, ela estabeleceu uma relação especial com um jovem macho chamado Vladimir. Quando parava seu carro e o chamava, ele vinha até sua janela, deixando que ela tocasse sua tromba e suas presas. Por cinco anos, interagiram dessa forma provavelmente oito ou dez vezes. Depois de 1991, ficaram 12 anos sem se ver. Quando ela se encontrou novamente com ele, em maio de 2003, ele já era um adulto de 34 anos, e foi difícil para ela reconhecê-lo. Mas algo na maneira pela qual ele se movimentava lhe disse que era seu velho amigo. Parou o carro (um carro que era novo para ele) e o chamou. Ele deixou seu caminho, caminhou em direção a ela, rodeou o carro, foi até sua janela e deixou que ela tocasse sua tromba e suas presas, como fazia 12 anos atrás.

A memória dos elefantes é ainda melhor quando se trata de sua própria espécie. Carol Buckley relata um caso em que duas elefantas – Shirley (53 anos) e Jenny (30 anos) – que haviam trabalhado juntas em um circo foram reunidas no Santuário de Elefantes do Tennessee, após 23 anos separadas. A saudação exuberante de ambas, quando foram reunidas, foi a primeira indicação de que já se conheciam. A partir de então, Shirley, que tinha 30 anos quando foi separada de Jenny, ainda um bebê, começou a se comportar de modo maternal. Sempre que Jenny se deitava, Shirley ficava a seu lado, fazendo sombra com seu corpo para protegê-la do sol e se tornando uma barreira contra algum perigo. Seu relacionamento no santuário mostrava claramente que não só se lembravam uma da outra, como também do relacionamento especial de adulto e bebê que haviam experimentado no passado.

Mãe ajuda seu filhote, que estava atolado em uma poça de lama (©ElephantVoices)
A complexidade social dos elefantes decorre, em parte, dessa capacidade que promove o desenvolvimento de múltiplas camadas de relações sociais. Estudos com “playback" realizados no Parque Nacional do Amboseli fornecem boas evidências para a grande rede e a memória social dos elefantes. Quando estão a uma longa distância, sem contato visual, os elefantes usam chamados de sons para se comunicar, e Karen McComb e outros pesquisadores descobriram que fêmeas de elefantes são capazes de se lembrar dos chamados de sons das fêmeas que fazem parte da família e do grupo e distingui-los dos sons das fêmeas que não fazem parte de seu grupo social, reconhecendo também chamados de grupos de famílias mais distantes, dependendo da frequência.

Dados importantes também foram descobertos em Amboseli com famílias lideradas por jovens matriarcas que procuravam por grupos familiares liderados por matriarcas mais velhas, provando a inteligência delas ao reconhecer que indivíduos mais velhos possuem um amplo conhecimento sobre diversos recursos, como a localização de áreas e regiões com alimentos sazonalmente disponíveis. Além disso, devido ao conhecimento ecológico e social adquirido com o aumento da idade, as fêmeas mais velhas têm maior sucesso reprodutivo do que as fêmeas mais jovens. Tais comportamentos podem ser de muita importância para momentos de dificuldades, diminuindo assim o índice de mortalidade no grupo.

Jovem fêmea utilizando um graveto para se coçar (©ElephantVoices)

Ainda podemos dizer que os elefantes utilizam e até mesmo fabricam ferramentas simples, conseguindo também manipular e modificar objetos de pequeno e grande porte. Comportamento interessante, visto que muitos pensam ser este um procedimento exclusivo de primatas. Não poderíamos deixar de falar então de outro comportamento muito complexo, relacionado a empatia. Comportamentos empáticos são comumente observados entre os elefantes, incluindo a formação de coalizões para ajudar outros indivíduos que precisam de auxílio; a proteção aos elefantes jovens ou feridos (ou até mesmo a outras espécies); o conforto aos indivíduos angustiados; o cuidado de filhotes que estão separados de suas mães; a recuperação de filhotes que estão separados de sua família natal; a ajuda a indivíduos que caíram, precisam de assistência física ou estão imobilizados; e a remoção de objetos estranhos de um elefante.

Uma discussão sobre a inteligência dos elefantes seria incompleta se não mencionasse sua compreensão sobre a morte. Os elefantes demonstram variadas reações à morte de amigos e familiares, e reagem até mesmo a carcaças encontradas no caminho.

Saiba ainda mais sobre a inteligência dos elefantes, acessando o texto completo original da ElephantVoices.



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Rosana Jatobá: Por trás das lonas

Excelente artigo de Rosana Jatobá, jornalista da Rede Globo - que atua no Jornal Nacional, no SPTV 2ª edição e no Jornal Hoje - a respeito do recente resgate dos quatro ursos que viviam em um circo no Pará, em um espaço tão pequeno, que mal podiam se movimentar. Na América do Sul, a Bolivia e o Peru já aprovaram leis que impedem o uso de animais em circos. No Brasil, há um projeto de lei aguardando votação em plenário, o PL 7291/2006, para impedir o uso de quaisquer animais em circos em todo o território nacional.


Circo Torricelli, Brasil
(C) ADI - Animal Defenders International



A ElephantVoices julga ser vital para o bem-estar dos elefantes que estão em circos no Brasil a aprovação dessa lei e apoiará o governo brasileiro com documentação e argumentos relacionados aos interesses e bem-estar dos elefantes. Mesmo sendo possível transferir alguns elefantes dos circos para zoos, ou para santuários de elefantes nos Estados Unidos, a preparação de um local modelo "santuário" de elefantes no Brasil é a alternativa mais responsável. Além de elefantes em circos, há também um número adicional de elefantes em zoos brasileiros vivendo em condições inaceitáveis e que necessitarão, em algum momento, de um lar alternativo. Um estabelecimento de ponta irá impulsionar ainda mais a imagem mundial do Brasil como nação progressista no que tange o bem-estar animal e representará um marco para isso na América do Sul.


Elefantes que já foram vítimas do comércio
de animais exóticos, trabalhando em circos
ou expostos em zoos a maior parte de suas vidas,
agora vivem em santuários como PAWS - E.U.A.
(C) ElephantVoices




Conheça os santuários americanos TES e PAWS.



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Os Pequenos Gigantes de Tsavo


Por Junia Machado

Ouvimos sons de galhos, de folhas sendo remexidas. Ainda não é possível avistar os elefantes, mas sabemos que eles estão se aproximando, e os aguardamos em silêncio. Surgem ao longe, um a um, do meio da mata, caminhando em nossa direção. Percebem que estamos ali e se aproximam curiosos. Kilaguni, de quase três anos, que lidera o grupo pelo caminho, me examina vagarosamente com sua tromba macia. Todos os outros começam a nos rodear e parecem muito satisfeitos de nos encontrar ali. São 9 elefantes, com idades que variam de 2 anos e meio a 6 anos.


Kilaguni e os outros órfãos no Parque Nacional de Tsavo, no Quênia.
(C) Junia Machado/ElephantVoices (10/2010)




São cinco da tarde, está quase anoitecendo e estamos no Parque Nacional de Tsavo, um dos maiores parques nacionais do mundo, no Quênia, onde vamos acompanhar de perto, por alguns dias, nove elefantinhos órfãos que estão reaprendendo a viver na natureza após terem passado seus primeiros anos de vida num orfanato em Nairóbi (The David Sheldrick Wildlife Trust). Quando bebês, quase todos eles sofreram o trauma de verem suas mães serem mortas por caçadores em busca de marfim. Kilaguni foi encontrado atolado em uma poça de lama, sendo atacado por hienas, que chegaram a devorar seu rabo e parte de sua orelha. Para sua sorte, foi resgatado antes que as hienas conseguissem matá-lo e hoje é um “menino muito ativo e expressivo”, segundo seus tratadores. Todos os dias, quando percebe que o pôr-do-sol se aproxima, ele e Makena lideram o grupo no caminho de volta aos estábulos, onde passam a noite em segurança.

Até os sete anos de idade, os elefantes são muito indefesos e dependentes de suas mães e é praticamente impossível que sobrevivam sem elas na natureza. É nessa reserva, com a ajuda de seus tratadores, que aprenderão a sobreviver e que conhecerão suas novas famílias e amigos, com quem passarão o resto de suas vidas. 



O que os elefantes têm a dizer

Os elefantes são extremamente inteligentes e vivem em sociedades muito complexas.  Possuem uma memória fora do comum, acumulando e mantendo conhecimentos sociais e ecológicos, lembrando-se de aromas e sons de outros indivíduos e de lugares durante décadas. Produzem uma ampla série de vocalizações, muitas das quais em frequências abaixo do nível de audição dos humanos, podendo se comunicar através de grandes distâncias com outros elementos do grupo. São importantes para o meio ambiente, pois transportam sementes para diversos locais, modificam a paisagem e criam novos habitats, contribuindo para a biodiversidade.
Por suas características psicológicas semelhantes às dos humanos, são vulneráveis ao estresse e ao trauma e a suas consequências de longo prazo, como a saúde mais frágil e - principalmente no caso dos mantidos em cativeiro - problemas de reprodução e comportamento anormal, entre outras.

Órfãos no Parque Nacional de Tsavo, no Quênia.
(C) Junia Machado/ElephantVoices (10/2010)

Infelizmente, o número de órfãos que chegam ao orfanato do Quênia tem aumentado cada vez mais, pois o mercado de marfim está crescendo assustadoramente. Estima-se que atualmente sejam mortos mais de 30.000 elefantes a cada ano na África, para suprir a demanda desse mercado, especialmente da Ásia. O mercado de marfim, seguramente, é a maior ameaça direta ao bem-estar e à sobrevivência desses seres magníficos.
Cada elefante morto tem um impacto enorme na sociedade: os órfãos não têm como sobreviver sem suas mães, uma família sofre e se desorganiza com a morte de sua matriarca, muitas vezes se separando em grupos menores e mais vulneráveis e assim por diante, em um efeito dominó devastador. É necessária uma ação global, através de todos os países e seus cidadãos, para que o mundo saiba que para cada enfeite de marfim comprado, pelo menos um elefante foi morto.

Manada de elefantes em sua longa marcha matinal diária, através de um lago seco na Reserva de Kitirua, no Quênia, em direção aos pântanos do Parque Nacional de Amboseli, onde passam o dia.


(C) Junia Machado/ElephantVoices (10/2010)

Saiba mais sobre o mercado de marfim, como ele impacta as populações de elefantes e também sobre como podemos colaborar em nossos próprios países e através do envio dessa informação a nossos contatos internacionais (principalmente da China e do sudeste asiático), em: www.elephantvoices.org/news-media-a-reports/119-ivory-trade/754-wealth-not-poverty-is-the-driver-of-elephant-killings.html

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Projeto de Pesquisa de Elefantes no Amboseli


Parque Nacional do Amboseli, no Quênia, onde está sendo desenvolvido há 40 anos o Projeto de Pesquisa de Elefantes do Amboseli, que descreve a vida e o comportamento dos elefantes africanos. Cerca de 1,600 elefantes, incluindo 58 famílias e mais de 300 machos independentes já foram nomeados e estudados nesse período.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Grupo especial do MP vai proteger animais



- O Estado de S.Paulo


O Ministério Público do Estado de São Paulo criou um Grupo Especial de Combate aos Crimes Ambientais e de Parcelamento Irregular do Solo Urbano (Gecap), que vai combater casos de maus-tratos, ferimentos e mutilação de animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. A proposta de criação do grupo especial foi aprovada pelo Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça. Os promotores que integrarão o novo grupo de trabalho serão indicados em 30 dias.